Plano de saúde pode negar autista? Advogado Explica.

Receber o diagnóstico de autismo de um filho já traz muitas dúvidas e medos. Uma das primeiras preocupações que surgem é sobre os tratamentos e como o plano de saúde vai lidar com isso. A pergunta que não quer calar e que talvez esteja tirando o seu sono agora é: o plano de saúde pode negar autista?

É uma sensação terrível de desamparo, eu entendo perfeitamente. Você só quer o melhor para o seu filho, o tratamento indicado pelo médico, mas se depara com uma burocracia fria. Saiba, desde já, que a resposta para a questão sobre se o plano de saúde pode negar autista é um sonoro e definitivo NÃO.

A lei está do seu lado e do lado do seu filho. Muitas famílias passam por essa luta, mas você não está sozinho e, com a informação certa, você pode garantir todos os direitos que lhe são devidos. Você vai ver como é possível vencer essa barreira e assegurar a qualidade de vida da pessoa com Transtorno Espectro Autista (TEA).

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A Resposta é Não: O Plano de Saúde Não Pode Recusar o Tratamento

Vamos direto ao ponto. A recusa de cobertura para tratamentos de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) pelos planos de saúde é considerada uma prática abusiva e ilegal. Essa proteção é garantida por diversas leis e regulamentações no Brasil, e é fundamental que os beneficiários conheçam seus direitos.

A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que regula os planos de saúde no país, determina uma lista de procedimentos obrigatórios, o chamado Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde. Anteriormente visto como uma lista final, o entendimento legal evoluiu, e hoje o Rol da ANS é considerado exemplificativo. Ou seja, ele representa o mínimo que o plano de saúde deve cobrir, e não o máximo.

Desde 2021, a ANS estabeleceu que terapias para pessoas com transtornos globais do desenvolvimento, como o autismo, devem ter cobertura ilimitada. Isso significa que o argumento de que o tratamento não está no rol ou que há um limite de sessões não é mais válido para muitas das terapias essenciais. A justiça tem reforçado esse entendimento de forma consistente, garantindo que o tratamento deve ser contínuo e adequado às necessidades individuais.

Entendendo as Leis que Protegem seu Filho

Além das regras da ANS, existe uma legislação robusta que protege as pessoas com autismo. A mais importante é a Lei nº 12.764/2012, conhecida como Lei Berenice Piana. Ela instituiu a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista.

Essa lei é um marco porque classifica a pessoa com TEA como uma pessoa com deficiência para todos os fins legais. Na prática, isso estende ao seu filho toda a proteção legal que já existia para pessoas com deficiência. O direito à saúde e à reabilitação sem qualquer tipo de discriminação faz parte desse pacote de proteção.

Quando um plano de saúde nega ou limita uma terapia prescrita por um médico, ele não está apenas quebrando uma cláusula contratual. Ele está desrespeitando uma lei federal e praticando discriminação, o que é muito sério. Garantir os direitos da pessoa com TEA é uma obrigação legal das operadoras de saúde suplementar.

Por que os Planos de Saúde Ainda Insistem em Negar?

Se a lei é tão clara, por que essa negativa ainda acontece com tanta frequência? A verdade é que, na maioria das vezes, a razão é puramente financeira. As terapias para autismo podem ser contínuas e intensivas, envolvendo uma equipe multidisciplinar, o que representa um custo elevado para as operadoras.

Eles contam com o desconhecimento e o cansaço das famílias para lucrar em cima de negativas indevidas. As desculpas mais comuns que eles usam para negar a cobertura são quase sempre as mesmas. Vamos olhar algumas delas de perto para você saber como se defender e garantir que os direitos à saúde sejam respeitados.

Desculpas Comuns e Ilegais dos Planos de Saúde

Eles podem dizer que o tratamento é experimental, o que é uma inverdade. Muitas vezes, isso é dito sobre a Terapia ABA (Análise do Comportamento Aplicada), que é o tratamento com a maior evidência científica para o espectro autista. Isso é uma mentira e a justiça já reconhece a Terapia ABA como essencial, não podendo ser negada sob essa justificativa.

Outra desculpa frequente é a limitação do número de sessões. Como já dissemos, a ANS removeu os limites para sessões com psicólogos, terapeutas ocupacionais e fonoaudiólogos para pacientes com TEA. Se o laudo médico prescreveu 20 horas semanais de terapia, o plano não pode limitar para apenas duas, pois isso comprometeria os resultados do tratamento.

Por fim, eles podem alegar que não há profissionais qualificados na rede credenciada. Se isso acontecer, não é um problema seu, é um problema deles. A responsabilidade de encontrar um profissional ou custear um fora da rede é inteiramente do plano de saúde, como veremos mais à frente. Isso não deve ser um impedimento para o início das terapias.

Se o plano de saúde pode negar autista, o que eu faço?

Ok, você já entendeu que a recusa é ilegal, mas o plano negou mesmo assim. O que fazer agora? É hora de agir. Sentir raiva e frustração é normal, mas use essa energia para lutar pelos direitos do seu filho. Aqui está um passo a passo prático para você seguir.

1. Tenha Tudo Documentado

O primeiro passo é a organização, pois você precisa de provas. O documento mais importante é o laudo médico detalhado, preparado por médicos especialistas. Ele deve conter o diagnóstico com o CID (Classificação Internacional de Doenças), a descrição detalhada das terapias necessárias e a carga horária semanal para cada uma delas.

É importante que o laudo justifique a necessidade de cada terapia para o desenvolvimento da pessoa. Peça ao médico que acompanha seu filho para ser o mais específico possível. Cabe ao médico definir o plano terapêutico, e o plano de saúde deve segui-lo.

Depois, você precisa da negativa do plano de saúde por escrito. Não aceite uma resposta por telefone. Solicite o tratamento formalmente por e-mail ou pelo aplicativo da operadora e exija que a resposta venha por escrito, com a justificativa clara da recusa. Esse documento é uma prova fundamental para os próximos passos.

2. Abra uma Reclamação na ANS

Com o laudo médico e a negativa por escrito em mãos, o próximo passo é registrar uma reclamação formal na Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Você pode fazer isso pelo site da agência ou por telefone. Esse processo é chamado de Notificação de Intermediação Preliminar (NIP).

Muitas vezes, uma reclamação na ANS já resolve o problema. A agência notifica a operadora, que tem um prazo para responder e, para não ser multada, ela acaba liberando o tratamento. É uma etapa importante e que pode ser mais rápida que a via judicial, por isso é uma boa primeira tentativa.

3. Procure Ajuda Jurídica Especializada

Se a negativa persistir mesmo após a reclamação na ANS, ou se a situação for muito urgente, o caminho é buscar um advogado especialista em direito da saúde. É aqui que a batalha se torna mais técnica, e ter alguém que entende do assunto faz toda a diferença para o sucesso da causa.

Um advogado pode entrar com uma ação judicial pedindo uma liminar. A liminar é uma decisão provisória e urgente que o juiz pode dar logo no início do processo. Se concedida, ela obriga o plano de saúde a custear o tratamento imediatamente, garantindo que seu filho não perca tempo precioso de desenvolvimento enquanto o processo corre.

Terapias que o Plano Deve Cobrir

O tratamento para o Transtorno Espectro Autista é multidisciplinar. Isso significa que envolve diferentes profissionais e abordagens terapêuticas que trabalham em conjunto. O plano de saúde deve cobrir todas as terapias indicadas no laudo médico, pois o autismo não tem uma única abordagem de tratamento.

O tratamento deve ser personalizado, e as terapias mais comuns incluem:

  • Psicoterapia com método ABA (Análise do Comportamento Aplicada): Considerada a intervenção com maior respaldo científico para o TEA.
  • Fonoaudiologia: Essencial para desenvolver a comunicação e a linguagem.
  • Terapia Ocupacional: Ajuda na integração sensorial e no desenvolvimento de habilidades para atividades diárias.
  • Psicomotricidade: Trabalha a coordenação motora e a expressão corporal.
  • Musicoterapia: Utiliza a música como ferramenta terapêutica para comunicação e interação social.
  • Fisioterapia: Necessária quando há questões motoras associadas.
  • Equoterapia: Terapia que utiliza cavalos para promover ganhos físicos e emocionais.

Lembre-se: não é o plano de saúde quem decide qual terapia é a melhor. Quem define o tratamento é a equipe multidisciplinar, liderada pelo médico que acompanha a criança. O plano tem a obrigação de custear o que foi prescrito por profissionais habilitados.

E Se Não Tiver Especialista na Rede Credenciada?

Esta é uma das principais artimanhas dos planos de saúde. Eles alegam: “Sinto muito, mas não temos nenhum profissional que aplique a Terapia ABA na nossa rede”. Muitas famílias desistem aqui, mas não deveriam, pois a responsabilidade de oferecer o serviço é do plano.

Se não houver um profissional qualificado na rede credenciada do plano na sua cidade, eles têm duas opções. A primeira é indicar um profissional fora da rede e pagar diretamente a ele. A segunda, e mais comum, é que você escolha um profissional particular e o plano deve fazer o reembolso integral do valor pago.

Fique atento aqui: não estamos falando do reembolso parcial que está previsto no seu contrato. Falamos de reembolso integral, cobrindo 100% dos custos. Isso acontece porque a falha em não ter um profissional na rede é da operadora, não sua, e o tratamento não pode ser interrompido por essa razão.

Situação Responsabilidade do Plano de Saúde
Existe profissional na rede Cobrir o tratamento integralmente com o profissional credenciado.
Não existe profissional na rede Pagar por um profissional particular e reembolsar 100% das despesas.
Profissional da rede é inadequado ou sem agenda É o mesmo que não ter. O plano deve custear um particular com reembolso integral.

O Mito da Limitação de Sessões

Como mencionamos, a ideia de limitar o número de sessões de terapia é ilegal. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) tem várias decisões que consideram abusiva qualquer cláusula contratual que limita a quantidade de sessões recomendadas pelo médico. Isso é visto como uma forma de negar ou limitar o tratamento de forma disfarçada.

O raciocínio é simples. Limitar as sessões é o mesmo que interromper o tratamento prescrito, o que pode causar um grande prejuízo ao desenvolvimento da criança. A lei não permite que os riscos de uma terapia inadequada recaiam sobre os beneficiários; portanto, a indicação médica é soberana.

O tratamento multidisciplinar para ser autista deve ser contínuo e na intensidade prescrita. Portanto, qualquer limite imposto pelo plano de saúde não pode prevalecer sobre a prescrição feita por médicos e outros profissionais da equipe multidisciplinar.

A Importância da Rede de Apoio

Enfrentar uma batalha legal contra uma grande operadora de saúde é desgastante. Por isso, é tão importante não caminhar sozinho. Além do apoio jurídico, buscar uma rede de apoio com outras famílias que vivem situações parecidas pode fazer uma enorme diferença.

Existem muitas associações e grupos online de pais e mães de crianças no espectro autista. Nesses espaços, é possível trocar experiências, compartilhar informações sobre bons profissionais e, principalmente, encontrar acolhimento e força para continuar. Saber que outras pessoas venceram essa mesma luta renova as esperanças.

Lembre-se que cuidar de si mesmo também faz parte do processo. A saúde mental dos pais e cuidadores é fundamental para garantir o bem-estar da criança. Não hesite em buscar ajuda psicológica para você também, se necessário, para lidar com o estresse e a ansiedade que essa situação pode gerar.

Conclusão

A jornada pode ser cansativa, eu sei. Mas saber que a lei está do seu lado te dá força para continuar. A resposta à sua grande dúvida, se o plano de saúde pode negar autista, é NÃO. Eles não podem e não devem negar o que é direito do seu filho: a chance de um desenvolvimento pleno e saudável.

Reúna seus documentos, conheça seus direitos e não tenha medo de lutar. Cada passo que você dá é um passo em direção a um futuro melhor para quem você mais ama. Por fim, a luta para garantir os direitos do seu filho é uma prova de amor e resistência.

Buscar ajuda jurídica não é um sinal de fraqueza, mas um ato de coragem e amor. Existem profissionais dedicados a lutar ao lado de famílias como a sua para garantir que a justiça seja feita e que nenhuma criança seja deixada para trás. Você é a voz do seu filho neste momento, e essa voz precisa ser ouvida.

Se você tiver qualquer dúvida específica sobre seu caso ou precisar de ajuda, lembre-se que a Berardini Sociedade de Advogados está aqui. Somos especialistas em Direito do Consumidor, Planos de Saúde e Direito Médico, com ampla experiência em ações como essa. Nossa equipe está pronta para conversar e tirar suas dúvidas, auxiliando uma pessoa como você, que utiliza planos de saúde e teve o tratamento negado. 

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